Poesia “O Vento I”
Eu sou como o vento. Você não me enxerga, você não me encontra, mas mesmo sem querer, você me sente.
Sou a certeza de incerteza sobre a própria vida. O ódio e o amor colocados sob a mesma távola em diferentes medidas.
Sou a própria poesia pronta para ser escrita, sou o plano sensível das palavras: terreno, básico e soturno.
Mesmo sombria, você encontra beleza: sem enxergar, tocar ou suspirar.
Qualquer sugestão ou intuição da sua parte não será capaz de me decifrar, porque nem eu mesmo sei o que significa minha própria existência.
Carrego o aroma do ouro, porque não tenho forma. Às vezes, eu não existo. E por isso é necessário que você seja um bom alquimista, com sensibilidade o suficiente para transformar em matéria e me ter.
Se me tem, eu te cego. E aí, de fato, posso até existir. Como um bárbaro pré-germânico eu invado sua casa, deito nos seus aposentos, destruo seus escritos, tomo do seu Cálix Bento, e não há escrita Sacra alguma que me fará ir embora senão a tua própria palavra: profana.
Eu fico, existo mas também não existo, sou uma ilusão por você criada. Não precisa mais ser um alquimista. Você sente então a forma do ouro, toca a própria poesia que ajudou a escrever, mesmo tendo errado a atuação do próprio roteiro.
Eu sou o vento. Você me beija. Ao sentir a brisa por todo o seu corpo, quando o frescor relaxar os seus sentidos… Eu vou embora. Porque o vento é assim. Prenunciando ou uma tempestade ou um belo dia de sol, não sei ao certo, não tenho sobre nada certeza.
Redimi toda a sua culpa de Apóstolo medíocre. O seu pecado maior foi pregar para si mesmo uma Liturgia da qual você nem sabe se acredita, mas eu ajudei a escrever.
O vento sempre volta. Cuidado sempre que for conceber essa poesia, pois eu não sou nada que você não queira.
2 Responses
Está cada vez mais profundo… Lindo demais
Eu simplesmente ameeei ,❣️ estou pensando seriamente em fazer um caderninho com trechos das suas escritas ❣️